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A Dialética Cultural

Ildásio Tavares

Goebbels, o maior publicitário do século XX, dizia que uma mentira tornava-se verdade. Que dizer de uma verdade repetida?

Bato sempre na tecla da era Edgard Santos e do efeito dialético da poderosa injeção de cultura erudita que foi aplicada numa Bahia rica de talento e de cultura popular mas carente de erudição e método.

Com Edgard Santos o curió cantou por música. Tivemos a primeira Escola de Teatro e Dança em nível universitário do país, assim como Os Seminários de Música que Edgard, não só elevou à categoria universitária como equipou com instrumentos, salas acústicas e, o melhor de tudo, pessoal de alto nível, a começar por Koellreuter, então uma figura dominante na área da música contemporânea.

Foi montada, praticamente, uma orquestra sinfônica, a primeira da Bahia, com exímios músicos estrangeiros, cujo passe Edgard comprou a peso de ouro, a maioria dos quais, completando a fusão cultural, casou-se com baiana, plantando a boa semente no nosso solo.

Os efeitos disso tudo são incalculáveis. Basta o grupo dos Jovens Compositores em que se destacou a figura emblemática de Ernst Widmer que tanto se fundiu em nossa cultura que compôs uma peça para a Orquestra Sinfônica e os Filhos de Ghandy. E num plano altíssimo, Lindembergue Cardoso, em que começa, inclusive, a ópera baiana. Restam hoje os frangalhos de uma Ufba grande.

Agora temos um profissional da cultura à testa da área no estado, convém que ele asseste suas vistas na Era Edgard, de quem, inclusive, é herdeiro, pois o teatro que ressuscitou é um dos frutos desta era, onde começa o moderno teatro baiano com Martim Gonçalves, uma das feras do reitor, e, em segundo lugar cronológico, mas não menos importante, o Teatro do Novos e João Augusto Azevedo, guru de Gil, Caetano, Tom Zé, Gal, Bethânia e por extensão do Tropicalismo. É fruto da Era até o TCA que Márcio Meirelles dirigiu.

Com isso quero encarecer que Márcio continua exercendo suas funções demiúrgicas de ressuscitador de nossa cultura erudita que agoniza debaixo da esmagadora potência de nossa esmagadora cultura popular que prolifera, dá lucros astronômicos e enriquece uma minoria. É preciso suprir de recursos materiais e financeiros os produtores abnegados de uma arte cujos lucros são imponderáveis, mas orçam-se no espírito de um povo. O Governo é, praticamente, o único Mecenas de porte neste país. Sem ele, nossa cultura de nível alto, mas de baixa renda vai sucumbir. Urge realimentar a dialética cultural da Bahia, agindo no vetor de menos poder, todavia de, mas profundidade e duração.

Lindembergue Cardoso conta em livro que, certa noite, o quarteto de sax da Ufba, ele no alto e Vivaldo Conceição no tenor, chegou no Tabaris e ele pediu a Sandoval para tocarem Tocata e Fuga em Ré Menor de Bach. Sandoval, obviamente, consentiu. A galera aplaudiu de pé, pediu bis, tris, tocaram música clássica até a boate fechar e saíram tocando na rua com o povo atrás. Aí Begue diz: "É engano pensar que o povo não gosta do que é bom. É só dar para eles.".


Tribuna da Bahia - 24/02/07

Contribuição de Sante Scaldaferri


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