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Assunto: ARTE
Autor: VITOR BORGES
Data: 19/03/2008 14:00
Vaca sagrada


Está chegando o dia; esplendores, rumores, estorvadores e mutiladas, todos se amotinando frente ao curral de uma única cancela. Esbarram-se, se mordem, se olham de canto de olho, cospem, manifestam, regridem, agridem e regurgitam tudo o que não leva à sorte. O esforço, o suor, o sangue, as noites de sono perdidas que sequer são levadas em conta – nem poderiam.

Difícil tarefa tomar o lugar da rainha, mesmo que não haja trono. Difícil comer deste alimento que se nutri do infortúnio, da prisão sem grades, do ocultismo da rede. E lá está ela novamente, badalada depois de tantas recompensas, tantos anos ostentando o cordão de ouro e uma política reguladora de propostas, mas sem culpa. Simplesmente participa. Antes bajuladora agora, esnobe.

Com sua anca gorda, vai pelo caminho esbanjando seus troféus, olhando seus súditos e julgadores com uma certeza tão grande da aparição premiada, que fica chata como uma cabrocha cortejada pelos demônios.

O tratamento que lhe é oferecido é quase uma mentira, um bom senso que não respeita as singularidades. Tantos holofotes imaginários, tantos flashes enquanto entram pela cancela da arena desejada, mas não para o abate, porém, para abater mais um grande prêmio enquanto futricas são sussurradas pelos cantos. Ela escuta, engole, olha sem que percebam só para notar a presença dos desinteressados pelas suas orelhas milimetricamente estudadas e seus cascos polidos. Suas tetas enormes prontas para esguichar leite na cara dos curiosos, tantos litros que até perco a conta.

Enquanto isso num curral bem menos nobre, bem menos protegido, bem menos assediado;
está a pobre produtora leiteira com um chocalho no pescoço, marcada com ferro e fogo, remoendo os restos de feno que sobraram de uma batalha passada.

O rio, o mar, os caminhos destinados a poucas e quase sempre as mesmas, com seus ubres inchados de um leite muitas vezes sem gosto, que enche o balde, mas não conforta o paladar. Enquanto isso a pobre coitada da antagonista com suas tetas quase murchas de desolação produz pouco, mas de uma temperatura, uma textura, um gosto adocicado do qual o paladar não tem do que reclamar. Infelizmente o que vale é o peito estufado, o nariz lá em cima como se nada pudesse fazê-la descer do pedestal mais alto do podium.

Está chegando o grande dia, ela se produz como uma rainha como se já soubesse do resultado, afinal, quem pode com um currículo tão dourado, cheio de aplausos e incompreensões, numa contradição faminta que nunca é revelada? O resultado é “batata”; tantas disputam, mas somente ela vence, e depois de tantos prêmios fica difícil conectá-la à realidade, se é que ela não é a própria. E lá, bem lá no fundo, nós, vacas de “segundo porte”, nunca seremos contempladas, sendo sempre vistas como uma cadela que corre atrás do próprio rabo e lambe as próprias feridas.
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