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Tempos sombrios: as poetas sensíveis demais

Há mulheres e mulheres, como todos sabem. Assim como há leitores e leitores, poemas e poemas e tudo o mais na vida e no mundo. Há até mesmo orbe e mundo, vida e existência, terra e gleba. Quero, no entanto, me ocupar agora com as mulheres que fazem poemas. Mais: as mulheres que escrevem poemas sensíveis. Desculpem os leitores, mas não é exatamente isso. Minha ocupação é mais específica ainda: mulheres baianas que fazem poemas sensíveis demais nos dias de hoje.

Dirão alguns: tempos sombrios, dias de violência etc. Não, não posso concordar com alguns. O tempo de Goya foi bastante sombrio e violento. O tempo de Boécio foi igualmente sombrio e violento, prendendo o autor da Filosofia da Consolação, equivocadamente; um homem bom. Talvez não sombrio, mas certamente violento, muito violento, esse tempo. O tempo de Cristo foi terrivelmente violento. Basta pensar em Barrabás, um criminoso estúpido, saindo ileso da cruz, enquanto Jesus era alçado pelos judeus à figura que daria origem ao Corcovado. É válido lembrar que a crucifixão era uma pena de morte facultada aos marginais, indigentes, ladrões etc. Aos homens nobres a pena era o apedrejamento. E há o tempo de Danton, quando não só Maria Antonieta foi guilhotinada, mas a esquecida Olympe des Gouges, autora da “Declaração dos direitos da mulher e cidadã” (1791), cuja vida foi escrita em romance pela escritora italiana Maria Rosa Cutrufelli.

Pois bem, em qualquer tempo os poemas sensíveis demais chocariam os leitores de Hanna Arendt.

Soube do lançamento de dois livros de poemas, de autoras baianas, pela editora P55, dentro da coleção Cartas Baianas. Decidi ler e reler alguns poemas dessas autoras, Ângela Vilma e Monica Menezes, por natural curiosidade de quem também faz poesia, além de crítica. Atualmente, com a facilidade dos blogs, podemos achar o que quisermos em questão de segundos. Assim é que li os seguintes poemas:

Sentença

Ângela Vilma

O amor não nos salvará.
Não há salvação no amor.

Tu onde estás, eu onde estou,
Almas que se beijam no ar.

Apenas isso, e a doce vontade

Desesperada de amar.

Não é a primeira vez que leio a poesia de Ângela Vilma. Gosto de alguns poemas, que em verdade costumam ser mais um projeto que um resultado. Mas esse poema se destaca, facilmente, pela falta de inspiração. O último verso parece tirado de Susana Flag ou algum correio amoroso, programa de rádio etc. Como se não bastasse, há um verso chupado de Bandeira: “Não há salvação no amor.”. Quem leu o poema Arte de Amar, sabe do que estou falando. A idéia do poema é a de que só existe a vontade. Nada mais. Acontece que também o poema fica na vontade. Mesmo letra de canção de amor é mais profunda e original que esse poema. Qualquer uma, e incluo aí até mesmo as bobajadas de Fausto Nilo.

Há certo risco em ler Bandeira. O mesmo se dá em seu antípoda, João Cabral de Melo Neto. No primeiro, o leitor-poeta corre sério risco de imitar a excessiva simplicidade tirada das coisas miúdas do dia a dia, a andorinha à toa, o porquinho-da-índia, as pernas de Teresa. A ladeira, na obra de Manuel, começa em Libertinagem. O “curioso” é que ninguém se influencia pelos excelentes sonetos do poeta de Evocação do Recife e tampouco por suas rimas toantes, sempre muito ousadas e inteligentes, ou suas redondilhas, maiores e menores. Há um raríssimo rigor na poética de Bandeira, nada presente em alguns dos poemas fáceis de sua obra, aqueles prediletos dos poetas preguiçosos.

Outro poema, agora da autoria de Monica Menezes:

Mulher

quis para mim a graça
do sonho de ser tua
e penteei meus cabelos
e pintei minha boca
e escolhi no espelho
meu melhor olhar de mulher
mas tuas mãos não são livres
teu coração já tem dona
e eu voltei para casa
menina
trazendo a máscara na mão

Onde está a poesia nesse poema? Uma mulher tem uma desilusão amorosa e se sente uma menina depois disso. E? Mais uma vez o desejo, a vontade, apenas a vontade. O poema é literariamente apenas vontade. Não se completa, não se resolve, apesar das palavras mais ou menos bem escolhidas.

Aliás, outra marca registrada das poetas sensíveis demais tem sido um verdadeiro pastifício, a descoberta de uma fórmula quase colegial de fazer um poema correto. Aprenderam a evitar cacófatos (não têm força para um arroto, essas moças, nem coragem) e a escolher algumas palavras que impressionam o leitor comum ou compadecido diante de mulheres sensíveis demais, em verdade pollyanas. Esse leitor compadecido acaba incorrendo numa discriminação, num preconceito, como se achasse inusitado, extraordinário, uma mulher escrever bem. E como se trata de um leitor incipiente, o texto é sempre muito bem escrito, tocante, profundamente amoroso. O poema correto é uma praga, corre solto por aí. É o poema vencedor de prêmios literários ehabitué em coquetéis de tudo quanto é lançamento de livro, porque o poema correto é sempre bem-vindo. Ele não destoa, não se distingue jamais, não ameaça.

Monica Menezes é pródiga em poemas corretos, sensíveis, diáfanos, ruins. Por isso, é dela mais um exemplo:

Hai Kai de areia

Escrevi meu destino<
na areia da praia.
O mar apagou.

Fico sem palavras agora, porque não sei por onde começar. Há tantas pontas soltas nesse minúsculo poema, que qualquer uma que eu puxe desfaz toda a trama.

Começo dizendo que isso jamais foi um haicai. Não falo da forma 5-7-5, quanto ao número de sílabas poéticas em cada verso da expressão máxima japonesa. Penso mais na contradição do discurso desse poema em relação à filosofia do haicai. O autor de haicais é ou tem algo de sábio. Portanto, ele jamais escreveria o destino dele na areia da praia. As mocinhas fazem isso. Haicaístas não. O verdadeiro haicai diria que alguém escreveu seu destino na areia da praia, alguém muito bobo. Além disso, que vem a ser esse poema senão uma constatação? E mais, uma tola constatação. Sim, a moça acreditou em algo que era efêmero, como todo mortal, diariamente, inclusive o vendedor de farinha de tapioca da feira de São Joaquim – tenho um amigo que disse que achou uma excelente farinha de tapioca por lá. Mas a autora de poemas sensíveis demais precisa escrever isso em seu diário. Monica Menezes, não contente, decidiu transformar esse diário em poema. E, como se tratava de uma seqüência de três versos, decidiu tacar o nome no título: haicai. E a sinuosidade do poema japonês? E a cascata sonora? E a linguagem cortante, quase hermética, revelando sempre algo profundo, traído pela superfície? É válido lembrar o belo, terno poema de Dona Cecília Meireles, “Inscrição na Areia” (“O meu amor não tem importância nenhuma/não tem o peso nem de uma rosa de espuma (...)”). É possível, portanto, fazer bons poemas a partir do banal e do simples cotidiano. Só não é possível fazer bons poetas, que esses nascem prontos – ou quase –, podendo crescer mais ainda, a partir da leitura séria dos clássicos e da experiência de vida. Emily Dickson passou a vida dentro de casa. Mas esse é um caso em um milhão. É como tirar na mega-sena.

Duas outras poetas baianas caem nesse sentimento rasteiro, e escrevem poemas com cheiro de comidinha caseira. Uma delas, aliás, só faz poemas dessa natureza. Chama-se Lúcia Carneiro, amiga de Linda Bezerra e de Mayrant Gallo – se George Orwell estivesse vivo jogaria no bicho e não num livro. A outra, Kátia Borges, consegue escrever bons poemas, mas em geral escreve algo muito pop e passageiro, além dos poemas sensíveis demais.

Lúcia Carneiro, que para mim é a pior dentre todas as poetas citadas nesse texto, publicou seu livro de poemas As voltas do tempo em 2008, pelo Selo Letras da Bahia. Não sei o que é mais estranho, se ela ter revelado que passou 20 anos escrevendo o tal livro – eu o teria feito em uma semana e o teria jogado fora – ou o fato de ser funcionária do Estado, o que caracterizaria uma improbidade, pois consta do regulamento que é expressamente proibido se inscrever alguém do funcionalismo público baiano, no retromencionado selo. Talvez essa condição ilegal tenha causado outra improbidade: a marca registrada do Selo Letras da Bahia não aparece na capa, infligindo outra lei constante do mesmo regulamento. A discrição é traída pela indiscrição da poesia gritantemente ruim.

Voltando à “literatura”, segue um “poema” de Lúcia Carneiro:

Estrela Cadente

E uma estrela cadente
rasgou o céu...
Foi tão bela
na sua brevidade!

Às vezes quero achar que não entendi certos poemas. O problema é que depois descubro que entendi, além de tê-lo sentido. O hermetismo teria sido uma redenção das mais charmosas, algo como a tríade italiana Quasímodo-Montale-Ungaretti... O livro de Lúcia Carneiro está cheio desse tipo de “poema”. Tudo vira, numa atitude desesperada, poema. Parece que ela anda pelas ruas e pela casa com uma rede de caçar poemas, e enquanto pega um lá embaixo, no asfalto, traz com ele toda a poeira da cidade. Nem mesmo uma simples e elementar erística da autora salvaria o texto, uma vez que mesmo o relativismo o desaprova. O poema acima afirma que a estrela cadente é bela em sua brevidade. Não sei, posso estar errado, mas não seria o mesmo que dizer que o vaso sanitário fica no banheiro? Sim, pode ser que a autora o tenha em outro lugar, vai saber...

Outra momice de Lúcia Carneiro:

PLOC!

Sob o sol,
um peixe salta e volta pra água.

Percebam como a poeta se enquadra perfeitamente no grupo das poetas sensíveis demais, mas com uma característica a mais, a puericultura: pretende ela que esse poema exista? Uma constatação, um peixe que salta e volta para a água, fazendo o som do título. Se se tratasse de objeto de hermenêutica, pensaríamos, para salvar o poema – ou o pescador do poema – que o termo “ploc” significa isso, que o peixe saltando significa aquilo... Não, não dá para mim. Não sei ler esse poema. Ou continuo o poema, inventando mais versos que expliquem esse começo nada promissor – o poema todo é um começo – ou simplesmente não há o que se publicar.

Outro poema, que Lúcia Carneiro é meu melhor argumento:

Dor

Inundados, seus olhos são navios naufragados
que aproam para o nada.

Agora percebam o leitor a escolha de palavras poéticas, e um fôlego cadenciado, poético, portanto. Mas tudo conduzindo nossos olhos ao nada. Literalmente, nesse caso. Naufragar, naufrágio, náufrago, tudo isso é de deixar o Robinson Crusuoé de água na boca. É palavra poética do tempo de Sexta-Feira. Palavra bonita danada! E tem ainda a palavra “nada”, usada com uma promiscuidade incrível, por poetas, quando não têm nada melhor para dizer, no lugar de nada. Mas a palavra passa um ar de mistério, certo misticismo e profundidade do vazio etc. É recurso dos mais utilizados por poetas que anseiam uma ascese, ainda que meramente telúrica.

Último poema de Carneiro, de pássaro:

Passarinho

Depois da chuva,
a alegria do passarinho chama o sol.

Cadê o poema, seu desenvolvimento? A arte de Lúcia Carneiro parece com o ready made de Duchamp: ela quer forçar o leitor a ver poesia no que ela vê. Mas eu só vejo o urinol, não tem jeito! E os temas são todos infantis, tudo é passarinho, peixinho, crianças brincando etc. O fecho é um silêncio provocado no leitor pela brevidade do poema e pela sensação denonsense. Esse silêncio é deliberado e ardiloso: quer fazer com que sintamos profundidade, a falsa profundidade dos poemas minimalistas ou niilistas. Não se perturbe, leitor: quando o poema da Lúcia Carneiro acaba, acaba mesmo. Inclusive com o leitor. Não há nada, no silêncio que procede de um poema da autora de As voltas do tempo. Quer-se Mário Quintana e Manuel Bandeira. Tem-se um livro cheio de figuras vazias, esperando uma criança para colori-las.

Esse texto está longo demais, então fecho com Kátia Borges, autora de três livros de poemas, sem um evolver qualquer, nesse percurso, que estreou em 2002 com De volta à caixa de abelhas, também pelo Selo Letras da Bahia. Mesmo sendo estreante, foi capa do Caderno Dois, do jornal A Tarde, onde a poeta trabalha como articulista na área cultural. Deram-lhe uma página inteira, entrevista etc.

Na primeira vez que li o livro fiquei aborrecido. Era ruim, rasteiro, cheio de plágios e com essa poesia sensível demais. A coisa foi melhorando com o tempo, ou eu fui piorando, me tornando mais tolerante. Passei a gostar do livro, mas com uma enorme licença poética. Hoje gosto muito de alguns poemas e muito pouco de outros. Uns me parecem indeiscentes; outros, providos apenas do motivo. De qualquer forma, segue um exemplo de minha “teoria” aplicada:

Estripulia

Falo baixo com você,
como se desse conselhos
a uma criança traquina.

Você, meu amor infantil,
que me ensinou tanta coisa.

Seus brinquedos,
esparramados pelo chão,
salpicam uma trilha de estrelas.

E sigo, sem reservas,
qualquer caminho
até você.

Apesar da imagem “fofinha” na terceira estância do poema, a estripulia de Kátia Borges é muito bem representada pela sensibilidade demais da falta de inspiração no desfecho do poema: “até você”. Na segunda estrofe, o clichê da criança que sempre tem muito o que ensinar a um adulto etc. O poema pode enganar os incautos por ser “bem escrito”, no sentido de ser bem comportado, como o CDF, que tira sempre notas boas mas é uma porta, quando tenta se expressar num debate, por exemplo, porque o pobre coitado não tem idéias próprias, apenas decorou os livros para prestar o vestibular. Basta apertar que ele se entrega. Passado a limpo, resta a vontade de expressar um sentimento, mas sem intimidade com as palavras-valise e menos ainda com a Poética.

Nem tudo está perdido, no entanto. Há Márcia Tude, poeta vencedora do Prêmio Braskem 2008, com seu pujante, viril, admirável livro novo Calendário, pequena mostra do poder de mulher, da poeta de Santo Amaro de Ipitanga. Um exemplo de poesia de verdade, poesia com tutano, viva e comunicativa:

Apolo no parque das mangueiras

I

Pelo caminho estreito,
duas mulheres e uma menina
com sapato de festa
vão ao parque.
Entre as mangueiras,
encontram absorto
o formoso Apolo
da crina dourada.
A grande árvore vibra,
e elas sorriem terra afora.
Ao lado, a menina –
ao sul, um passamento.

Por entre os lábios do deus
passeiam as palavras –
música de vozes perdidas.
Sobre a grama, o arqueiro
rola com a criança.

Sente-se de imediato, como prova de maturidade da autora, a exteriorização do eu poético, que dá um descanso de si mesmo para falar do “outro”, um objeto, afastando-se, portanto, do diarismo, das invaginações femininas, com suas espirais intermináveis, a respeito do que lhe passa no intestino, suas mágoas, seus desejos, seus sonhos, os bombons de chocolate que não comeu e as celulites da alma. Outro exemplo de grandeza poética está no vocabulário rico, colorido, exato, de Márcia Tude. As imagens são grandiosas e se aproximam dos mestres do Impressionismo francês – poderíamos pensar numa mulher impressionista, Berthe Morisot, caso a pintora não fosse tão “doméstica” –, tanto em pinceladas quanto em notas dissonantes, que vão de Renoir a Debussy.

Enquanto escrevia esse artigo, decidi fazer poemas no formato das poetas sensíveis demais, para sentir o que elas sentem e entender melhor o tal processo de criação das moças por casar. Fiz enquanto conversava, comendo uma fatia de pizza e digitando. Barulho de carro de som do lado de fora de casa, pregoeiros, buzinas etc. Fiz 17 poemas em menos de meia hora, usando palavras-chave que poetizam o poema, e buscando o ritmo “correto” das autoras citadas acima. Seguem abaixo quatro exemplares da experiência, das mais fáceis e divertidas:

Auto-retrato

a Ângela Vilma

O vento
segue à risca
a minha pele
em volutas assombradas,
e revela, para além
do próprio
espelho, a máscara
sibilina de outra face.

O abismo da rosa

a Lúcia Carneiro

O gato
me inicia em seus mistérios
e me conta sobre os olhos
amarelos que transitam
pela casa, sobre o abismo
de meu ser em movimento
sobre o escuro de uma flor
que não se move.

As palavras de meu amor

a Monica Menezes

quis o destino
do meu amor que eu não
me movesse
até encontrar
no espelho a memória
dos dias refletidos
em meus olhos marejados
de palavras
que inda espero
serem ditas
pela ausência de mim mesma.

As canções de minha avó

a Kátia Borges

Minha avó
quando dizia alguma coisa
sobre os cágados avisados
pelo tempo
eu calava em minha pele
o sentimento e o desejo
de ouvir aquela canção
antiga em que Janis Joplin
arranhava meus ouvidos
de menina.
Hoje, quando minha avó
fala alguma coisa sobre
o passado,
deixo que o vento me traga
a distância das canções
que ela ouvia.

Devo confessar que acabei me empolgando, tão logo terminei de escrever os poemas, de modo que pensei em reuni-los, criar um blog, usar a foto de uma jovem bonita e receber elogios de tudo quanto é gente – sobretudo os marmanjos. Futuramente, uma inscrição no Prêmio Braskem e pronto, está criada uma carreira.

Há palavras e expressões obrigatórias nesse tipo de poesia. Alguns exemplos: vento, nada, abismo, eu – e toda a sua família – vazio, de mim mesma, véu, persona, máscara, memória, espelho, tempo, ausência, silêncio, nome de flor.

Outras características poderiam ser citadas, como a presença do nome de uma avó ou tia, sempre; algo familiar, comida caseira, detalhes que “só mesmo ela consegue transmitir”, que nos remete a Adelia Prado e a uma vontade incrível de parecer poeta menor, de quintal, porque, segundo certa orientação literária, esses são os poetas universais de verdade. Isso quando não decidem fazer uma poesia bem “fêmea”, do tipo Elisa Lucinda, verdadeira praga entre as mulheres desejosas de parecer muito mulher, sufragista, com útero grande demais, que acham muito ousado e novo ser visceral – ai, que saudade da Orides Fontela...

Tempos sombrios. Poesia repleta de plágios, vontades e elogios. Mais vale um Goya na mão que Adélia Prado envelhecendo. A palavra do dia é “simplicidade”. O épico está fora de moda há muito tempo. O grandioso e monumental é considerado hoje espalhafato, excesso, como a chaparia dos carros no século XXI. Nada de Castro Alves, Gonçalves Dias, Francisca Júlia, Gilka Machado – que escreveu maravilhosos sonetos eróticos – e menos ainda Bruno Tolentino, que não coube em nosso tempo e país. A partir de Bandeira, pegando o pior de Drummond – que soube fazer o magistral A máquina do mundo e só: o resto é uma quantidade incrível de poemas ruins, prosaicos etc. – e alcançando o pré-suicídio All Star de Ana Cristina Cesar, a poesia sensível demais é filha do jornalismo, do passageiro, descartável, da piada pronta do Macaco Simão. Como se não bastasse, surge um homem chamado Manoel de Barros, com seus caramujos repetitivos – em verdade o mesmo, que nunca sai do lugar – e uma insuportável mania de banalizar a arte de fazer poemas, afirmando o que Oscar Wilde e outros afirmaram há mais de século. Tentativa de fazer em poesia o que Guimarães Rosa fez em prosa, com uma insistência irritante no nada, na infantilização da linguagem, dos temas, das coisas, além de uma bestificação do poema que mais se aproxima da figura do humorista nordestino Tiririca. A simplicidade tem sido confundida com o nada, um niilismo de quem não tem assunto algum para tratar; e dão um trato a esse nada, tornando-o, no máximo, simpático, sensível, por assim dizer.

Vale registrar que não se trata de literatura cor-de-rosa, a feita pelas poetas sensíveis demais, mas de uma literatura anêmica, pálida, cor de desmaio, sem inspiração, como se a musa dos românticos tomasse da pena e escrevesse o que imagina que seus poetas escreveriam.

Pouco se deu entre a fralda e o absorvente, me parece, ainda que tenham dado. Essas mulheres não amadureceram. Márcia Tude permanece bastante sozinha, cuidando dos filhos.

A sensação que tenho é a de que as poetas sensíveis demais não sobreviveriam a um parto.

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11/10/2010 05:12:25 - O MEDO DA CRÍTICA
Na província todos ou todas estão calad(os)as, será por falta de argumento?Na província reina a mesmice e os versos inúteis. Parabéns ao poeta Henrique Wagner por acender esta luz no fim do túnel,
Postado por: CAIO MARCELINO FILHO
11/10/2010 13:34:46 - Comentário
Anti-séptico este artigo. É preciso dar nomes certos aos bípedes implumes certos. Não importa que o autor seja um poeta ruim, não conheço sua poesia, mas isso pouco importa. O que importa é a verdade sem mácula do seu artigo. Apenas a Márcia Tude não me convenceu, mas... preciso ler mais de sua escrita.
Postado por: Roberto Santana
13/10/2010 05:13:32 - Cadê as poetas maiores?
Bem, Henrique,você é bom crítico, digo isso como leiga, pois sou uma simples bibliotecária. Não conheço as mocinhas de quem você fala, mas concordo, porque cá no Rio é a mesma coisa. Não conhecia a Kátia, mas gostei do que li em sua coluna. Mas, por favor, como você não cita aquelas poetas maravilhosas da Bahia, a Myriam Fraga e a Maria da Conceição Paranhos? Aqui na Biblioteca Nacional RJ estamos fazendo uma exposição com a obra das duas denominada "Canto da Mulher" com algumas poetas brasileiras e os livros que realmente vendem são os dessas duas poetas e musas (como são belas as duas lourinhas!). Por que você não escreve sobre elas? Garanto que ia chov er leitgore de sua colujna!!
Postado por: Juliana Klaus
13/10/2010 05:13:33 - Cadê as poetas maiores?
Bem, Henrique,você é bom crítico, digo isso como leiga, pois sou uma simples bibliotecária. Não conheço as mocinhas de quem você fala, mas concordo, porque cá no Rio é a mesma coisa. Não conhecia a Kátia, mas gostei do que li em sua coluna. Mas, por favor, como você não cita aquelas poetas maravilhosas da Bahia, a Myriam Fraga e a Maria da Conceição Paranhos? Aqui na Biblioteca Nacional RJ estamos fazendo uma exposição com a obra das duas denominada "Canto da Mulher" com algumas poetas brasileiras e os livros que realmente vendem são os dessas duas poetas e musas (como são belas as duas lourinhas!). Por que você não escreve sobre elas? Garanto que ia chov er leitgore de sua colujna!!
Postado por: Juliana Klaus
13/10/2010 05:21:47 - desculpe
corrigindo: Garanto que ia chover leitor de sua coluna!!
Postado por: Juliana Klaus
13/10/2010 05:35:02 - Poetas da nova geração
Oi, Juliana, muito obrigado por ter lido o texto acima, um texto longo demais para internet... Bom, eu não citei a Myriam Fraga e a Conceição Paranhos porque a idéia era escrever apenas sobre poetas que publicaram livros de 2000 para cá... Abçs. H.
Postado por: Henrique Wagner
13/10/2010 05:52:07 - Maria da Conceição Paranhos
Henrique, não se engane: Juliana Klaus é a própria Maria da Conceição Paranhos, fingindo ser uma humilde bibliotecária, mas em verdade tentando se promover.
Postado por: Marcelo Brunelli
13/10/2010 06:33:32 - Loiras?
Maria da cOnceição Paranhos é uma "bela lourinha?" Pelo que me consta ela foi sempre morena, Juliana.
Postado por: Fátima Santiago
13/10/2010 06:37:24 - Denuncia séria
O autor faz uma denuncia que seria investigada, se os fatos fossem levados a sério nessa Bahia “De dois ff”. A lei deveria ser igual para todos. Uma amiga artista plástica não apresenta seus projetos ao Conselho de Cultura porque o seu marido é conselheiro desse órgão. Como uma funcionária tem o seu livro publicado desrespeitando duplamente as normas da casa?
Postado por: Fátima Santiago
13/10/2010 06:42:08 - Ironia Convincente e Cômica
Mas, voltando ao texto, embora não conheça a obra das poetas citadas e acredite que uma análise do estilo de um autor seja mais preciso a partir do conhecimento da obra “completa”, quero assinalar a ironia como marca da linguagem do Henrique Wagner, e nesse artigo ele se superou. Os “poemas no formato das poetas sensíveis demais” podem ser considerados paráfrases, pois ilustram o estilo da escrita de cada uma delas, visando torná-lo mais inteligível para o leitor, e, ao mesmo tempo, são paródias: demonstram de forma jocosa e criativa (com dedicatória às autoras) o que caracteriza esse estilo “sensível” de escrever: a ausência de poesia. A ironia é, portanto, um recurso argumentativo convincente e lúdico utilizando pelo autor em defesa de sua tese. Se rir já é bom, imagine rir de forma inteligente...
Postado por: Fátima Santiago
13/10/2010 12:41:54 - Convivência difícil
Até onde tive paciência para ler, este exercício fragmentado de atividade crítica pseudo/intelectual/narcisista só me despertou a curiosidade de saber quem é HW. Googlei e esbarrei na poesia de tão severo crítico. Usando o mesmo método do fragmento para esculhambar, olha só o que encontrei aqui, em Obras Completas ( http://www.revista.agulha.nom.br/henriquewagner.html#organico ) "Quando eu crescer quero ser grande. Quando eu ganhar quero vencer. Quando eu morrer quero ser escritor." Difícil acreditar ser a mesma pessoa, poeta e crítico. A obra de HW não sobreviveria ao crítico HW . Não sou crítico e posso até achar bacana estes versos. Tenho mania de gostar das palavras. E até achei divertida a aspiração do poeta HW. Mas o crítico HW deve se contorcer ao ler os singelos versos do poeta HW. Deve ser uma convivência difícil.
Postado por: Marcus Gusmão
13/10/2010 15:17:03 - Concordo contigo
Marcos, obrigado pela leitura. Concordo contigo: o poema citado, de minha autoria, é ingenuo, como tudo o que escrevi na adolescência... Desconfio que eu tenha crescido um pouco. Há quem não cresça, no entanto. Mas valeu, de qualquer modo! Abraço.
Postado por: Henrique Wagner
13/10/2010 15:28:47 - Marcão
Ah, "googlei" vc e continuo sem saber nada a seu respeito... Será que vc não é sequer fragmentado ou pseudo? Fiquei chateado... Depois volto a procurar algum texto que o apresente ao mundo. O que me parece é que amigo das autoras criticadas, o que já explica bastante, seu comentário. Graaaande Abraço, Marcão!
Postado por: Henrique Wagner
13/10/2010 15:42:24 - Graaaaande Marcão!
Acabei de reler os poemas que escrevi e que vc leu, Marcão. São poemas "singelos", digamos assim, mas não são "sensíveis demais", pelo contrário. E o tema do meu texto crítico é justamente esse: a sensibilidade excessiva. Quanto a ser pseudo: será que sou pseudo porque vc quer, apenas? Onde há fragilidade em meus argumentos, para que eu seja considerado uma fraude? Há, para tudo o que assinalei, uma boa quantidade de exemplos e explicações... Agora achei seu blog. Divertido, no máximo. É que não gosto desse universo pop... Abç.
Postado por: Henrique Wagner
14/10/2010 05:22:46 - Divertido
O texto de Henrique Wagner é muito duro. O crítico é severo com os outros... Mas ainda assim, divertido.
Postado por: José
15/10/2010 05:14:43 - Menino Pequeno
É lamentável o comentário absolutamente pessoal do Marcus Gusmão, que é amigo das meninas, as poetas sensíveis demais, citadas por Henrique no texto acima. Tenta desancar o autor, o crítico, em vez de se ater ao texto. Fala em questões externas e ainda se porta como “minino piqueno”, ainda que tenha mais de 40, ao querer ganhar a “briga”, usando um poema de Henrique Wagner, que nada tem a ver com o texto em questão. Isso se chama corporativismo, e dos mais rasteiros, com direito a modos de boteco, exercidos pelo pobre Marcus Gusmão, que não conseguiu ler o texto direito, provavelmente porque é “demais” para ele... Mas é importante registrar: o comentário é pessoal. Marcus é amigo das autoras citadas.
Postado por: Roberto Machado
06/04/2011 13:42:09 - Manoel de Barros
Desculpe, Henrique, mas discordo totalmente do que vc expõe sobre Manoel de Barros. Ele é o poeta mais lido da atualidade, além disso eu estudo e acompanho o desenvolvimento de sua poética há mais de 10 anos e afirmo categoricamente que não há na atualidade poesia mais original que a dele.No Brasil temos já mais de 15 teses de doutoramento e dissertações que estudam questões pertinentes à estética barrosiana, como relação entre poesia e filosofia; metalinguagem; intertextualidade; dentre tantas outras percepções que uma leitura mais atenta de seus poemas podem oferecer. Isso que vc chama repetição, eu denominaria estilo à luz de Lacan.Vejo a sua visão um pouco estereotipada em relação à centralização de um cânone. Talvez porque MB seja de uma região distante culturalmente dos grandes centros. Acredito que alguns desses axiomas se deem em função mesmo de um estudo mais apurado e científico da obra de Barros: 18 livros de poesia e 4 livros de poesia infantil.
Postado por: Maria Gonçalves
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